segunda-feira, 18 de agosto de 2008

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Durante 10 semanas acreditamos num sonho que viemos infelizmente a perceber que seria adiado. Vimos a nossa estrelinha partir para longe de nós...
Quando soubemos que estava grávida, começamos por não fazer planos e decidimos que deveriamos deixar fluir e permitir que a nossa estrelinha se fosse ligando a nós e nós a ela. Quisemos ser racionais até ao dia em que ouvimos o seu coraçãozinho bater... Esse dia ficará marcado para sempre nas nossas memórias como o dia em que percebemos que tinhamos gerado a vida...o nosso rebento... fruto de tanto amor e de um sonho!
Embora desde o início soubessemos da grande possibilidade para o derradeiro final, quisemos sempre crer que não faríamos parte da estatistica. O dia 2 de Julho foi a data em que o sonho terminou, o mundo parou ...
Nos dois dias que antecederam a ida à médica comentei com o meu marido que me sentia extraordináriamente triste, o que não é um sentimento comum em mim...no fundo acho que sentia o que se iria passar e com o aproximar da consulta disse-lhe várias vezes que o meu desejo era ouvir de novo o coraçãozinho bater...o que não aconteceu. Nesse fim de tarde a médica entrou na sala do ecografo muito bem disposta e faladora, e quando começou a fazer a ecografia não conseguiu esconder na face o que se passava. Imediatamente perguntei o que se passava ao que ela respondeu com tristeza " Houve perda de vitalidade!" Estas palavras cairam que nem duas bombas... o tempo parou, fiquei sem reacção, procurei os olhos do meu marido e senti que ia desabar... Depois de alguns momentos que tentaram ser de perceber o que se tinha passado, a médica informou-nos do que deveriamos fazer: foi-nos dito que se começasse a sangrar deveria dirigir-me de urgência ao hospital, caso não acontecesse deveria na manhã seguinte ir para o Hospital para iniciar o Protocolo de Esvaziamento do Útero. No dia 03 dei Julho pelas 08h30min dei entrada no Hospital para o que seria à partida um processo vulgar de P.E.U. que se iniciaria com a introdução de medicação para provocar dilatação e contração do útero de forma a expelir o feto. Se tudo corresse bem passadas umas 4/5h expeleria o feto e seria observada para saber se estava tudo bem para depois regressar a casa. Não foi nada fácil...posso dizer-vos que sou uma pessoa bastante resistente à dor e pouco impressionável nesse sentido ... mas passei mal, mesmo mal, fiz 3 P.E.U. o ultimo foi às 23 h e nada, nem uma gota de sangue...só dores...febre...queda da tensão...cólicas...à partida tudo o que se passaria num trabalho de parto sem qualquer indício de dilatação... No dia seguinte fui informada que teria que fazer uma Curetagem, devo dizer que não doi nada, é rápido e nós temporariamente desligamos de tudo como se entrassemos num sono profundo.
Nas primeiras duas/três semanas após a Curetagem senti-me bem, com energia, conformada com o que se tinha passado, a pensar no futuro... mas depois a determinada altura senti que o chão me faltou, e fiquei triste...aquela tristeza que não se sabe explicar...
Por norma sou otimista e acredito que tudo se resolve, por isso acredito que este sonho foi adiado, os sentimentos, no entanto, por muito que se queiram camuflar não se conseguem ...até um dia...A negação foi a primeira a aparecer....depois a injustiça, a tristeza e por fim a aceitação...
A vida nem sempre corre como desejamos. E às vezes os momentos de maior felicidade acabam por tornar-se momentos de dor, em que pura e simplesmente não encontramos sentido para nada. A verdade é que a natureza é sábia e age para nos poupar de maior sofrimento no futuro.

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